Dicta&Contradicta


Eles não usam Lei Rouanet

Talvez você pense que eu não tenho escrito meus domingos com poesia, mas escrevi nada menos do que cinco: foram publicados na Dicta & Contradicta, na seção “Anatomia do poema”. Peguei minha obsessão girardiana (que está longe de passar, a propósito) e relacionei cinco poemas:

Vejam só como é eletrizante o poema de Baltazar Estaço:

Em despeito do amor profano
(1604)

Mostra prudência sábia o que é minino,
apresenta-se manso o que é tirano,
aparece sagrado o que é profano,
profanando porém o que é divino.

O siso quer fingir no desatino,
a verdade pintar no falso engano,
disfraçar o proveito em nosso dano,
matando o natural e o peregrino.

Imóvel se afigura o inconstante
Amor, porque de falsa cor se tinge
para que nada dê, mas nada negue.

Tal este amor se mostra e finge ao amante,
mas tal qual este amor se mostra e finge,
tal fica quem o busca e quem o segue.

Se ontem eu falava de como a crítica não era voltada para o público, hoje posso dizer que a principal virtude da D&C é justamente ter sido escrita para os leitores – e sem subestimá-los. Acho que uma das atitudes mais abjetas perpetuamente em voga no Brasil é sempre supor que “o público” é composto de idiotas para quem tudo deve ser diluído e piorado, o que não passa de uma máscara de elitismo condescendente para a preguiça ou incapacidade de escrever qualquer coisa com clareza. Por isso, se eu tivesse que destacar uma virtude da D&C, ela está em os textos serem densos sem ser “acadêmicos”, agradáveis de ler e interessantes (e espero que isso se aplique também ao que eu escrevi). Creio que o projeto não tem paralelo em nosso idioma, e é inspirado na New Criterion.

Para saber mais, dê uma olhada também:

Se você estiver em SP, não perca o lançamento nesta terça, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.