“Passivo-agressivo” é um anglicismo. A expressão inglesa passive-agressive costumava designar aquela pessoa que dava um jeito de se colocar no lugar da vítima para reclamar uma justiça miudinha. “Você vai lembrar de lavar a louça?” É a guerra preemptiva, a doutrina Bush (W.) das relações interpessoais.
Hoje em dia a passive-agressiveness tem sua expressão mais trivial na expressão “do bem”. Existe até um suco que se diz “do bem”. A sugestão óbvia é que quem não é do bem é… Então vem um suco — um suco, senhores, um suco — dizer que foi aprovado por todas as instâncias do conselho Jedi, eleito por votação popular com urna eletrônica, e é bebido todos os dias pelo Dalai Lama. É isso ou ser…
Sim, claro, a passive-agressiveness é um fato, cabe explicá-la, se possível for, mas combatê-la? Seria como combater o gosto pelo McDonald’s. O que interessa é como a passive-agressiveness virou retórica de mercado. Quando eu era criança era muito assertivo, mais ainda do que sou hoje, e era invariavelmente submetido a clichês do tipo “o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?”. Pois hoje o azul, ou o amarelo, são “do bem”. Não sei qual é, depende de quem vai se dizer “do bem” primeiro.
Também podemos perguntar: eu acredito mesmo que alguém se acha “do bem” por tomar um suco, por compartilhar um texto? Sei lá, se os publicitários estão ganhando dinheiro propondo isso, então para alguém a ideia cola.