Blog não é textão

Tenho pensado sobre gêneros textuais. Deus sabe o que a diversidade vem ensinando nas escolas, mas gêneros textuais são diferentes de gêneros literários, ainda que sejam parecidos com estes. Gêneros textuais são uma das partes mais dolorosas daquilo que você não sabe quando aprende uma língua estrangeira: a carta comercial, a redação de escola, o artigo de jornal. Não pense o leitor que esses gêneros não variam de idioma para idioma…

Nos últimos anos internéticos (dois, três, cinco, sei lá; tudo na internet parece que foi ontem e que foi no século retrasado) surgiu um novo gênero textual: o textão, que parece viver entre o Facebook e o Medium. Nunca o entendi bem. Meu lado autista-psicótico-literalista me sugere que é apenas um texto comprido, o que provoca a ladainha automática de que “ninguém mais lê, ó, meu Deus etc.” Por outro lado, a experiência mostra que o textão é uma espécie de lição de moral sem a menor graça retórica ou narrativa. Esopo escrevia fábulas, La Fontaine deu seu pitaco, e padres e pregadores empenharam-se em falar bonito. Se mantivermos a frieza classificatória, o padre Antonio Vieira foi o grande clássico do textão em língua portuguesa — e veja o leitor que alguns de seus sermões são tão compridos que é o caso de realmente perguntar-se se ele os fazia mesmo nas igrejas.

Além da polarização ideológica, parece existir ainda outra polarização: aquela entre o textão e a zoeira. De fato, muitas vezes pode ser difícil até mesmo distinguir um do outro. Mesmo assim, e para aquém ou além das 28 razões pelas quais você nunca mais precisará acompanhar um argumento de cabo a rabo, o impulso moralizante aparece o tempo todo. Dá saudade de quando era possível simplesmente falar e ouvir sem demonstrar ser virtuoso ou (virtuosamente) engraçadinho.

No fundo, a ideia é essa. Os anos passam, a água corre debaixo da ponte Mirabeau, e o formato do post de blog me parece mais adaptado a um tom de conversa, à fala relaxada de quem no entanto preza um certo rigor (mesmo que esteja sinceramente equivocado). Ouso dizer que isso, hoje, soa até ligeiramente subversivo: escrever porque sim, por puro gosto da conversa, por puro gosto do idioma. Diletantismo? É provável. Não me importa, ou talvez me importa muito: parece um diletantismo urgente.

O meio é a mensagem. O blog é anárquico, antiquado; guarda alguma coisa do mundo impresso, presta-se a mil atualizações diárias e a duas atualizações mensais.

Vejamos quanto tempo dura está encarnação de O Indivíduo.