Um viajante do futuro apareceu aqui agora e, com um português meio esquisito, disse que eu precisava de “alívio cômico” e me entregou um recorte de um grande jornal lá da época dele. Vejam só:
ÍNDIA – Após o falecimento de Tenzin Gyatso, o décimo-quarto Dalai Lama, budistas do mundo inteiro aguardam sua reencarnação.
Segundo o tulku Betoff, do Centro Budista de Ipanema, os desafios que o próximo Dalai Lama terá de enfrentar são muitos. “O budismo tradicional ainda está preso a valores antigos, como a atenção, a concentração, a meditação. Mas hoje as pessoas preferem ficar mandando mensagens pelo WhatsApp. Então acredito que todo esse valor dado à meditação precisa ser reavaliado. O budismo é milenar, mas precisa estar em sintonia com os desejos atuais.”
O jornalista Paulo Luiz Borda também tem suas críticas. “O consumo de carne é uma realidade. O homem moderno não devia precisar escolher entre uma linguicinha e o zen. Eu mesmo acho que existe muita espiritualidade numa picanha mal passada”, diz, após um discreto arroto.
A feminista Lôra, rapper da Marcha das Vadias, também acredita que o novo Dalai Lama deve defender o aborto irrestrito. “O Dalai Lama precisa entender que não é o desejo que leva ao sofrimento. Quando uma mulher faz um aborto, o que ela quer é evitar o sofrimento imposto pela sociedade. Precisamos de um Dalai mais antenado com a luta contra o patriarcado. Aliás, por que ele não pode reencarnar numa mulher? Vamos fazer uma marcha para exigir isso, já é hora. Peitos de fora pela Dalaia!”
Gyatso, porém, afirmou que não reencarnaria na República Popular da China, criando problemas para os lamas tibetanos responsáveis por encontrá-lo. Especialistas acreditam que isso abre a possibilidade de que o novo Dalai reencarne como mulher. Os tulkus brasileiros, aliás, acreditam que uma favela pacificada seria o melhor lugar para isso. “Seria uma oportunidade de o budismo dar um exemplo de democracia para o mundo, mostrando que a reencarnação do Dalai Lama está ao alcance de todos.”
A presidenta Dilma Roussef prometeu incentivos fiscais para o budismo se o novo Dalai reencarnar numa favela pacificada. “E se vier mulher, melhor ainda.” Porém, o ex-deputado Janjão W. afirma que o Estado é laico e que esses incentivos só devem ser concedidos se, além de mulher e favelada, a nova Dalaia for lésbica. “Precisamos de uma líder religiosa que empunhe a nossa bandeira. Já pensou, a Dalaia na Parada Gay da Paulista?”
De todo modo, milhões de budistas no mundo inteiro esperam que seu futuro (ou futura) líder espiritual atenda às suas aspirações e esteja em sintonia com o mundo moderno, sendo capaz de levá-los rumo ao novo milênio. Num tempo em que o desejo é sagrado, uma religião que o questione pode estar com os dias mais do que contados.
Uma resposta para “O décimo-quinto Dalai Lama na mídia”
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