Epidemia de censurite

Uma coisa que definitivamente une esquerda e direita é o gosto por denunciar a censura. Estão todos sendo censurados. Agora é a fotógrafa Nan Goldin, que vem ao Diário do Balneário dizer que foi censurada porque o Oi Futuro, cá no Balneário, cancelou sua exposição. Mas, dona senhora, madame fotógrafa, o Oi Futuro é uma instituição privada. Instituições privadas não censuram. Só quem censura é o governo. Já repeti isso mil vezes, mas fazer o quê? A lenga-lenga em torno da censura parece imortal.

Se um artigo não é publicado na imprensa, isso não é censura. É exercício do direito de propriedade, o mesmo que garante que eu não tenha de ouvir na minha casa nada que eu não queira. Se uma exposição é rejeitada ou cancelada, isso pode até ser deselegante, mas não é censura. Mesmo que uma exposição ou um artigo sejam rejeitados por órgãos estatais, isso não é censura. Para que fosse censura, o Estado teria de vetar a exibição daquele material em qualquer lugar, ou proibir a circulação do texto. É tão difícil? Será que estarei me revelando um insensato ao dizer estas palavras? Ou será que devo bater na porta do sr. Otávio Frias Filho e dizer, socando a mesa, que eu tenho o direito de publicar meus textos na Folha de São Paulo?

Claro que o discurso dos que sofrem de censurite tremens é puro sensacionalismo. Mas não está aí o pessoal a dizer também que “ideias têm consequências”? Do jeito que a coisa vai, da próxima vez que eu pedir para tirarem a azeitona da minha pizza, já vou me preparar para ler no jornal um artigo do pizzaiolo: “Nossas receitas estão sendo censuradas. É nossa arte que está sendo sufocada!”

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