As más consequências das boas intenções do ministro da Educação

Então Fernando Haddad, o ministro da Educação que jamais teria sido poupado pela esquerda se fosse do PSDB, vem propor um ensino médio em tempo integral, com conteúdos profissionalizantes, “porque muitos deles [alunos] precisam de uma profissão, em função das condições socioeconômicas da família”.

Sem sequer entrar no mérito da proposta, vamos tirar suas consequências mais óbvias. O que vou dizer é básico demais. Dá até uma certa vergonha. E não é ideológico, aliás. Não é uma questão de como as coisas deveriam ser.

Digamos que no início de um ano letivo o ministro da Educação venha todo feliz e serelepe dizer que tantos milhões de jovens entraram nos cursos profissionalizantes, e que desses milhões, algumas centenas de milhares escolheram ser eletricistas. Isso quer dizer que ao fim de um ano ou dois o mercado subitamente terá mais algumas centenas de milhares de eletricistas. O preço dos serviços de eletricistas vai baixar. Algum sindicato vai reclamar. Podem surgir tabelamentos de preços. Podem surgir exigências burocráticas que sirvam de barreiras de entrada à profissão. Os garotos que estudaram dois anos para ser eletricistas podem subitamente descobrir que só têm a opção de trabalhar no mercado informal ou esquecer tudo o que aprenderam. Uma boa parte deles certamente vai para o mercado informal. Os preços tabelados ou “sugeridos pelo sindicato” vão parecer estratosféricos e irreais. Vai valer a pena contratar um garoto, mesmo que seja ilegal. Quem vai fiscalizar isso?

A fórmula é a seguinte: muita educação + pequeno mercado de trabalho = astrofísico dirigindo táxi para ganhar a vida.

Agora sim eu vou dizer como as coisas deveriam ser. O governo deveria flexibilizar, e muito, as leis trabalhistas. Deveria permitir o acesso de mais pessoas ao mercado de trabalho. A experiência de outros países já mostra que, diminuindo impostos e burocracias, a base de arrecadação aumenta e com isso a própria arrecadação, em números absolutos. O governo pode fazer o que quiser com o dinheiro: pagar diárias de motéis ou “construir escolas e hospitais” (sinto uma lágrima furtiva escorrendo sempre que penso naqueles sonegadores perversos que “impedem o governo de construir escolas e hospitais”). Todo mundo fica feliz.

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Já que estou falando de trabalho, ontem mesmo eu li uma matéria no City Journal sobre como a legislação americana bloqueia o microempreendedorismo, ou o trabalhador individual da informação, entre outros. Como eu mesmo. E muitos dos meus amigos, que somos pessoas que ficam em casa trabalhando. Se alguma cidade criasse legislação específica para nós, com baixos impostos, poderia ver sua arrecadação aumentar. Porque, caramba, atualmente eu preciso de um alvará da prefeitura para me sentar no meu próprio computador e traduzir. Francamente, se isso não parece errado, e maligno, então não sei nem por onde começar a argumentar.

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