Chego em casa à noite e me deparo com o texto de César Benjamin na FSP em que ele acusa o presidente da república de ter confessado uma tentativa de estupro durante um almoço com um marqueteiro americano na campanha de 1994.
Agora, direitistas do meu Brasil, antes de pegar a pedra no chão e sair gritando “eu sabia, eu sabia!”, vamos pensar um pouco.
1. Sem nem entrar no mérito da acusação, César Benjamin está confessando que ouviu o candidato à presidência para quem trabalhava confessar a tentativa de estuprar um garoto sem que isso sequer o motivasse a abandonar essa campanha. Acho que isso diz muito sobre os padrões de César Benjamin. E também recorda que agora ele está em outro partido. Quer dizer que César Benjamin acha tolerável tentar estuprar alguém, desde que você esteja no partido dele. Como é que o sujeito consegue contar essa história sem perceber o que diz a respeito de si mesmo é que eu não entendo. “Então, pois é, o cara confessou o estupro, e aí eu continuei trabalhando para ele virar presidente.”
2. Também não sei como é que a Folha publica um negócio desses sem que pelo menos outra pessoa confirme que Lula realmente falou isso durante o almoço. Isso não é jornalismo. Isso é a mesma coisa que eu dizer que um belo dia o Zezinho das Couves me contou que estuprou outro garoto. Só que o Zezinho das Couves agora é presidente. Ninguém sabe quem é a vítima, não há testemunhas, não há nada.
3. Não sei se o crime, se aconteceu, já prescreveu, nem se já havia prescrito quando César Benjamin ouviu sua confissão, mas será que ele não se torna cúmplice disso em alguma medida?
4. Se a direita conceder crédito imediato ao Benjamin, vai se desacreditar tanto quanto a Folha, que publica acusações graves por puro sensacionalismo (e os tablóides ao menos têm as fotos dos paparazzi). A única coisa séria a fazer é averiguar a história a fundo, encontrar a vítima, testemunhas etc. Mesmo que não haja mais possibilidade de processo, há a possibilidade de documentação. Ou faz-se isso, ou cala-se a boca. O resto é fofoca, loucura e autodegradação.