No filme The Affair of the Necklace (Hillary Swank faz papel de mulher, e bonita, olha só), aparece uma frase atribuída a Napoleão, que acreditava que o affair do colar magnífico da rainha Maria Antonieta estava entre as duas causas da Revolução Francesa. Também já vi quem atribuísse o apoio popular ao golpe puritano na monarquia inglesa à divulgação das perversões a que um duque obrigava seus servos. Aparentemente, as revoluções seriam movidas pela indignação do povo com a imoralidade de seus governantes.
E se eu certamente não desejo que aconteça um banho de sangue no Brasil (embora, francamente, creia que a punição mínima para os deputados que abusaram das passagens deva ser devolução do dinheiro corrigido e multa – quando a gente deixa de pagar imposto, não é isso que acontece?), não posso deixar de me perguntar se a razão de ele não ter acontecido está em ninguém ter tentado capitalizar o ódio contra a classe inteira dos burocratas. Nas revoluções francesa e inglesa havia o intuito de abolir a própria nobreza e as distinções de classe, e o efeito disso, na Francesa – já que a inglesa morreu no meio – foi a criação da burocracia, que não é percebida como uma casta diferente, embora seja de fato.
Isso apenas reforça a minha crença de que nossos líderes políticos, eleitos ou não, ocupando cargos ou não, preferem ignorar essa indignação popular porque eles mesmos desejam aqueles privilégios. O pobrema é que não dá para desejar privilégios e o Estado de Direito ao mesmo tempo. Privilégio é uma lei privada. Estado de Direito é uma mesma lei para todos.