E como ela não deveria ser tratada com tanto escândalo. Do meu artigo para o OrdemLivre.org:
É por isso que eu mesmo fiquei atordoado ao ler o artigo de Roberto da Matta afetando estar chocado com a falta de leitura do presidente Lula. Não apenas da Matta cita Lula fora de contexto, afirmando que Lula declarou à Piauí que a leitura mesma lhe dava azia, quando na verdade Lula disse isso só a respeito da imprensa, como ainda sugere que consta na job description do presidente da república ser um intelectual modelo e declarar seu amor pela leitura. Amor que na verdade é um fetichismo, porque nem mesmo da Matta, que afirma que “morreria sem livros”, certamente não se referia a qualquer espécie de livros. Creio mesmo que, excetuando a prosa de ficção e outras obras experimentais, que têm no formato do livro algo que determina a experiência desejada pelo autor, todos os conteúdos têm na escrita apenas um acidente de transmissão, e não sua própria essência. Quem concordaria comigo seria Sócrates, o filósofo grego, ao menos na versão que nos é apresentada por Platão. Sócrates não só não escreveu nada como condenou a escrita no diálogo Fedro, dizendo que ela levaria os homens a perder a memória. O impacto de Sócrates sobre a cultura ocidental já é suficiente para colocar a ideia de que “ler é importante” entre parênteses.
Uma coisa é lamentar as eventuais vergonhas que Lula passa sem perceber, outra coisa é transferir ao presidente (qualquer presidente) a obrigação de ser macho alfa em todas as áreas, ou ao menos na área que mais apetece ao eleitor.