Em que comento assuntos do dia

Mas não diretamente. Neste post, Janaína Leite mostra como a discussão da prisão de Daniel Dantas pode facilmente virar discussão de torcida ou de criança. “Você é chato”. “E você é chato é bobo”. “E você é chato e feio e bobo”. Dizer isso não é diferente de lançar uma definição arbitrária de “pessoas de bem”, como se “ser do bem” fosse estar do lado do Superior Tribunal Federal ou da Polícia Federal. Naturalmente, isso equivale a identificar um ou outro com “o bem”, o que é errado não porque essas instituições sejam “o mal”, mas porque nenhuma instituição humana merece ser identificada metafisica e aprioristicamente com “o bem”.

Isso é óbvio e nem merece ser desenvolvido. Janaína Leite, ao colocar no fim de seu diálogo a pergunta sobre ter visto os autos dos processos, também toca no problema de as pessoas se contentarem com o “ouvir falar”, ou, como prefere dizer um amigo, “folclore”. Quando eu dizia, no post anterior, que para ser autoridade em algum assunto bastava declarar essa autoridade, era a isso que eu aludia. Como, fora de certos e bons departamentos universitários, quase ninguém foi aos originais, toda opinião parece válida. E isso cria um outro problema: em vez de a vida intelectual extra-universitária organizar-se em torno de uma comunidade de leitores dentre os quais alguns tiveram idéias originais (certas ou erradas: é isso que será discutido), ela se organiza em torno de pessoas que leram os livros e contam às pessoas que não leram o que estava escrito. É por isso que eu costumo dizer, numa fórmula poética pessoal, que ainda vivemos como jesuítas e índios, os que leram e os que não leram.

E, se me permitem uma análise “macro” da nossa situação cultural, acho bom que hoje exista mais direita na imprensa do que havia há 10, 12 anos. A vida do direitista liberal e/ou conservador não é mais solitária (a vida do fascista light preocupado com a Amazônia, a lei e a ordem, que acha que a liberação das drogas será o colapso do Império Romano nunca foi solitária). Mas não basta ser contra a esquerda, ter uma postura negativa e destrutiva permanente. É preciso fazer algo positivo, e isso só é possível buscando a verdade e a virtude. Falar mal é muito fácil (é divertido também, admito). Falar mal ou bem, na medida justa, buscando resultados positivos, isso é muito difícil. Mas não se deixar seduzir pela própria indignação com “o mal” é um passo indispensável para alguma maturidade.

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