Francamente, não acredito que o debate público seja um debate. Jamais vi um debate verdadeiro acontecer na imprensa ou na internet. Acredito que exista um modelo de debate, o modelo da escolástica medieval. Primeiro apresenta-se uma tese e faz-se um bom esforço para remover de sua formulação o máximo de ambigüidade – e neste momento é importante dizer que a imparcialidade absoluta me parece uma exigência demoníaca, mas a boa vontade, a honestidade e a sinceridade são perfeitamente obrigatórias. Não há regra perfeita do debate, mas há a expectativa de (tentativa de) excelência moral. Não há sistema perfeito, mas há pessoas boas. Após este esforço, apresentam-se as objeções com a mesma clareza. Aí começa o esforço dialético, que é um esforço de limpeza e polimento. Acredito que isso possa acontecer com facilidade na consciência individual. Acredito que isso aconteceu em público um dia só porque há registros.
O debate público, especializado ou não, é puramente retórico. À maior parte das pessoas não cabe nem o papel de espectador. Por exemplo, não existe rigorosamente nada que eu possa dizer a respeito da mecânica de aviões. Se me dizem que um “reversor” é importante, poderiam ter dito “asljkfej” que o efeito seria o mesmo. Enquanto espectador deste debate, só posso sentir o efeito da prova retórica. Vou acreditar no orador que for mais articulado, parecer mais respeitável etc. Serei obrigado a aceitar diversas premissas que não consigo compreender. E, diante da variedade dos assuntos, é inevitável que seja assim. Dependo da prova retórica. Dependo da fé no orador mais respeitável para orientar diversas decisões na minha vida prática. O mesmo acontece para a vida pública. Enquanto a idéia de verdade não for completamente abandonada, ainda vamos querer pautar nossas vidas por ela.
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