¡Qué difícil es
cuando todo baja
no bajar también!
— Antonio Machado
Bruno Garschagen outro dia falou da decadência de Otto Maria Carpeaux, e fiquei imaginando como devem ter sido suas décadas aqui: chega o homem com uma cultura absurda, escreve os ensaios e começa a mostrá-los aos intelectuais que julga seus pares. Começa a ouvir: “Puxa, faltou uma crase aqui.” “Achei seu tom aqui um pouco firme demais…” “Você é muito inteligente.” Ou ainda, em conversas, imagino-o falando de Hölderlin e Goethe, apenas para ouvir: “Olha, seu sotaque já está desaparecendo… Quer mais uma cerveja?” E ele vai sendo tragado pelas superficialidades, sem entender que é isso que se passa, talvez sem perceber que era disso também que Machado de Assis falava. Não há golpe, e muitas vezes nem contrariedade: há a lenta dissolução, o aliciamento sem pressa… A fabricação, enfim, do homem cordial.
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