Nesta sexta-feira, 1 de junho, completo 30 anos. Naturalmente, questões como “o que é ser adulto” têm me passado pela cabeça. O pior, ao menos no meu caso, é que eu me sinto exatamente igual a como me sentia quando criança. De certo modo, sempre esperei que algo fosse mudar, que talvez fosse um dia acordar e me sentir de um jeito diferente, “adulto”. Talvez, na verdade, eu me sinta até um pouco mais criança: os anos passam e eu vou ficando menos ranzinza e menos sisudo.
A única mudança tangível é a sensação permanente de que o tempo passa e eu também. Antes o famoso verso de Apollinaire, “les jours s’en vont, je demeure” (“os dias passam, eu permaneço”), tinha outro sentido: as coisas à minha volta é que passam, eu continuo aqui, perfeitamente jovem, com todas as possibilidades do mundo. Nem tanto. Já sei que há muitas coisas que não farei, mas o melhor é ter conseguido perceber que na verdade eu não queria fazê-las…
Por volta dos 26, 27 anos, adquiri uma espécie de “mentalidade pagã” que incluía a percepção constante de que a juventude, que para mim ainda é o estado natural, era na verdade uma bênção. Depois parei de dar importância a isto e hoje só dou importância ao tempo. O que estou fazendo com este tempo que me é dado? Quanto tempo perdi, dissipei? Claro que agora eu poderia sacar uma pérola de sabedoria de PowerPoint e dizer que nenhum momento é perdido, porque todos contribuíram para aquilo que sou, mas isso é uma bobagem sem tamanho. Perdi tempo sim e poderia ter me tornado alguém muito melhor se tivesse usado meu tempo de modo diferente. Hoje esta questão, na verdade uma questão de economia, é muito premente, como não era há 10, 5 ou mesmo 2 anos.
Não posso dizer que estou nem exatamente bem nem exatamente mal. Não lamento tantas das coisas que fiz e que não fiz, nem estou particularmente satisfeito. Neste ponto, falando um pouco como o pagão que não sou, posso trazer Aristóteles: só dá para saber se alguém é feliz depois que essa pessoa morreu. Não me parece que um estado de satisfação essencial (vejam, eu disse essencial, e não completa) seja algo propriamente humano. Como não querer ser melhor? Como não ter qualquer inquietação? Por isso sempre me sinto estranho diante de perguntas como “você é feliz?” Se eu morrer e for para o céu, serei feliz. E vocês poderão avaliar, se não acreditarem em nada disso, se a minha vida aqui na terra foi feliz.
E, bem, caso você que me lê sinta um imenso desejo de me dar um presente, pode consultar…
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