Se você é declaradamente marxista, tem uma visão pré-concebida da História: ela começa mais ou menos com a acumulação primitiva de capital, passa pela revolução proletária e termina com o lindo comunismo cósmico, em que o mundo será uma gigantesca aldeia dos Smurfs (acredite em mim, você quer clicar neste link).
Se você é declaradamente católico, acontece a mesma coisa: a História da espécie humana começa com os “protoparentes” (quem achar que os católicos acreditam na interpretação literal do Gênesis precisa estudar mais), passa pelas alianças de Deus com seu povo, e termina com a segunda vinda de Cristo.
Ainda assim, é muito difícil encontrar um historiador católico que fique vendo aqui e ali sinais de que a Segunda Vinda está próxima, e que reinterprete constantemente o que vê para que se explique sua proximidade ou distância. Isto acontece porque Cristo falou que ninguém sabia quando seria sua volta. Já o historiador marxista não faz outra coisa além de explicar em qual fase do capitalismo nós estamos, e se a revolução está próxima ou distante. Ele, porém, goza de credibilidade científica, e sua chave interpretativa é considerada válida. O nome disso, é claro, é preconceito.
Neste momento do texto, se você for um perfeito idiota de esquerda, entenderá que estou propondo que o estudo de História seja reajustado para caber entre o Gênesis e o Apocalipse, mas não foi isso que eu falei. Freqüentemente, trato mais das reações comuns a certos assuntos do que dos assuntos mesmos. O que interessa mostrar é que não é por seu ateísmo que o marxismo deixa de ser uma crença, mas essa crença tem aceitação social e isto é, em princípio, inteiramente gratuito.