Caros leitores: saio em minutos para ver o Papa Bento XVI em São Paulo. Só escreverei novamente aqui no domingo.
O primeiro Papa que vi, por razões óbvias, foi João Paulo II; vi-o em 5 de outubro de 1995, no Giants Stadium. Dois anos e três dias depois, vi-o no Maracanã, aqui no Rio. Lembro-me de ouvir o Sergio de Biasi me dizer, enquanto ainda éramos alunos da PUC: “Você é católico mesmo! Vai até ver o Papa…!” E até hoje há quem se espante com uma pequena viagem para ver o Papa.
Se você é vagamente católico e mora perto de São Paulo ou Aparecida, recomendo que vá. Não interessa a sua opinião sobre o homem, nem sua concordância ou discordância com coisas que ele diga. Você não precisa nem achá-lo simpático. Quando aparece aquele velhinho de roupa branca, você simplesmente sabe que quem está ali é o Apóstolo. Parece que, assim como Deus deu a São Francisco um sonho com um hábito que inspiraria piedade nas pessoas, também deu ao Papa algo que inspira reverência nas pessoas.
Não sou monarquista (muito pelo contrário: sou um republicano radical), e não consigo me imaginar sentindo por um rei deste mundo a mesma reverência. No poema “The Shield of Achilles”, Auden fala em “The mass and majesty of this world / All that carries weight and always weighs the same” (“a massa e a majestade deste mundo / tudo que pesa e sempre tem o mesmo peso”). Ele se referia ao exército grego que tomaria Tróia. Quando você está presente num evento político importante, mesmo que todos estejam contagiados pela atmosfera, ainda assim é fácil perceber a horizontalidade e até a fragilidade daquele momento. Ele irá embora. Mas a visão do Apóstolo deixa uma impressão duradoura. Deixou em mim, e sei que deixará novamente.
Se você mesmo duvida que haja algo especial, faça-se as perguntas que eu sempre me faço: por que o Papa causa mais escândalo e ódio, por que ele é mais vítima de calúnias e idiotices (por exemplo, a foto da capa do Globo de hoje, que o mostra pisando no Brasil com o pé esquerdo e aludindo ao fato) do que outros líderes, digamos, “espirituais”? Já observei que ninguém enche o saco do Dalai Lama por causa do celibato do budismo tibetano. O jejum católico é sinistro, mas o festival de cacetadas que é a prática do budismo zen é supostamente algo profundíssimo. E, é claro, fazer dieta só para ficar muito magro: coisa naturalíssima. Se Al Gore (que até o fim dos anos 90 era o modelo universal de idiota, lembram?) diz que você tem que fazer milhões de sacrifícios em nome da prevenção do “aquecimento global”, tudo bem; mas se o Papa sugere que você seja um cara mais paciente, e não se entupa de comida, ele está ameaçando a sua liberdade. Isso porque ele nem pode passar leis nem cobrar impostos.
Todos os filisteus do mundo odeiam o Papa, e isto é quase uma prova suficiente de que Deus está do seu lado.
Até domingo.
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