Impressões e lições

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Leiam o texto do Elton sobre filmes de terror. Também eu fiquei muito impressionado por O Bebê de Rosemary, como aliás por todos os filmes do Polanski que vi. Sei que ele já negou ser satanista – mas quantas pessoas diriam, “é verdade, sou satanista sim”? – e não consigo acreditar. Polanski consegue gerar perfeitamente simpatia pelos protagonistas e só os afunda, afunda e afunda (Lua de fel, O último portal). É como se o espectador afundasse junto. Você pode dizer que, com isso, ele está mostrando nossos defeitos a nós mesmos, porque em retrospecto podemos ver os pecados dos personagens e como estes pecados geraram sua ruína. Mas não acredito que ele se torne com isso um grande cristão pela mesma razão que não acho (e a experiência comprova) que as peças de Nelson Rodrigues têm o efeito moralista que ele pretende: guardamos das obras de arte impressões e simpatias muito mais do que “lições”, o que é perfeitamente demonstrado pelo fato de as pessoas terem como modelos amorosos personagens como Tristão e Isolda e Romeu e Julieta. Os dois casais têm amores impossíveis, histórias que terminam mal, e a morte do segundo poderia perfeitamente ser evitada. No entanto, ninguém quer morrer como Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta; as pessoas querem viver como eles, o que é obviamente impossível. Não me lembro agora onde li isto, mas a verdade é que não se pode querer ter um casamento, isto é, uma vida estável, com rotina, e ao mesmo tempo viver grandes aventuras. É espantoso que ninguém perceba a contradição e continue desejando conciliar a visão de Eros com as banalidade inevitável do cotidiano, mas isto acontece porque a impressão que as histórias causam é duradoura, mais duradoura na memória do que as lições que podemos tirar delas.

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