Promessas

Words are for those with promises to keep.

– W.H. Auden, Their Lonely Betters

Vou me tornando um defensor cada vez mais sério do celibato clerical e da monogamia leiga, e não pelo que eles têm de sacramental, mas pelo que têm de humano. Logo os católicos serão (ou já são, porque ninguém vai torrar a paciência do Dalai Lama por causa do celibato budista) o último grupo escandaloso que acredita que um juramento prestado em um único dia afeta uma vida inteira. Não consigo pensar em nenhum exemplo melhor para ser dado hoje. Só os católicos associarão a prudência, a abnegação e o sacrifício à idéia de amor; só os católicos pesarão o prazer ou desprazer de cada momento contra uma vida inteira. Aceitar – conheço mais de uma pessoa nessa situação – esperar a morosíssima burocracia eclesiástica conceder um certificado de que o casamento não aconteceu, ou simplesmente resignar-se com os resultados de suas próprias ações, eis atitudes quase inéditas e verdadeiramente heróicas. Podemos ver nelas testemunhos da virtude sobrenatural da fé, mas por que não ver também testemunhos da virtude humana da honra? Pois do ponto de vista humano um casamento ou uma ordenação são promessas públicas, e a promessa, como mostrou Rosenstock, é a base da linguagem e portanto a base da sociedade. A vida humana se estrutura em torno da ordem, da promessa, e do relatório: ou alguém diz “faça” e o outro diz “fiz”, ou alguém diz “farei” e depois diz que fez. A ordem e a promessa sem relatório se esfacelam, e o relatório sem ordem nem promessa é, num sentido, a literatura: o discurso que não corresponde a uma expectativa pré-definida. Sei que é óbvio dizer, mas é o cumprimento das promessas e das ordens que garante a continuidade de qualquer coisa, e é pela insistência em que seus adeptos cumpram suas promessas que a Igreja Católica continua e vai continuar existindo, enquanto pessoas que preferiram quebrar suas promessas roem-se de inveja e buscam consolos estéticos, como se um bom romance valesse mais do que uma boa vida.

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