Ainda a educação de adolescentes

Ontem, terça-feira, o suplemento juvenil do Globo trouxe uma matéria com sugestões de alunos e professores para tornar as aulas menos chatas. Pura ingenuidade, já que o desinteresse dos alunos tem duas razões básicas:

1. Indiferença ou mesmo repulsa pelo conteúdo a ser ensinado. Eu mesmo não consigo pensar em nenhuma maneira de tornar a química orgânica atraente. Neil Postman diz em seu sensacional O desaparecimento da infância que o principal problema da educação obrigatória é que ela se baseia em perguntas que não foram feitas. A auto-educação é sempre antecedida por uma pergunta ou um desejo consciente; a educação obrigatória é mais uma etapa na socialização do que no aprendizado. Tanto é que todos temos muitas caras lembranças de momentos passados com os amigos de escola e, proporcionalmente, poucas caras lembranças de momentos de aprendizado. Além disso, para a maioria das pessoas que conheço – e ao dizer isso não pretendo diminui-las nem um pouco – a experiência de uma séria inquietação intelectual só costuma vir bem depois que a escola acabou. Mesmo assim, ninguém vai ter inquietações relacionadas a todas as mil matérias escolares.

2. O discurso onipresente que relaciona educação e sucesso profissional parece mesquinho ao jovem. Não apenas me parecia mesquinho em minha adolescência como nunca tive um amigo que, em idade de vestibular, estivesse tão interessado em um possível ganho material futuro que fosse abandonar seus ideais por ele. Por “abandonar” não quero dizer “trair”, mas “deixar de lado”. Os jovens são tão idealistas quanto imediatistas; mostre-lhe um grande exemplo moral e este será muito mais persuasivo do que um sujeito sorridente de terno e gravata. Será que ninguém percebe que Che Guevara, o assassino cruel, vende tantas camisetas porque é percebido como o David latino que enfrentou o Golias imperialista? E que estas camisetas, sendo compradas espontaneamente, indicam o forte anseio de excelência moral que existe no jovem? Tentar motivá-lo com a promessa de um salário e garantias é usar um discurso adequado apenas a quem já deseja se aposentar. E, a propósito, esta mesma crítica pode ser feita à famosa “educação sexual”: ao colocar o sexo na área de saúde, não apenas sua dimensão moral é amputada (ainda que qualquer menina que não queira ser vista como promíscua saiba muito bem da sua dimensão moral) como o sexo passa a ser apresentado apenas como fonte de doenças.

Com isso, não quero dizer que os jovens não se preocupem com dinheiro, vejam bem; quero dizer que acredito que a maior parte dos jovens que não estejam passando fome preferirão um ideal de excelência moral a possibilidades financeiras, e que isso é amplamente demonstrado pelo sucesso que idéias revolucionárias têm entre eles.

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