O Márcio Guilherme me passou o negócio dos autores de quem você desistiu. O Gabriel Filártiga ia me passar, mas eu disse que não teria como responder, e na verdade eu deveria estar trabalhando. Mas hoje lembrei disso e redigi minhas razões para não querer ler três autores. Apenas peço aos leitores que tenham em mente que estou escrevendo só meus preconceitos: o que está abaixo é uma impressão, algo anterior a uma opinião, e diz mais sobre mim do que sobre os autores.
Clarice Lispector – quando eu estudava na PUC, tive que ler um conto. Era alguma coisa sobre uma galinha que ia ser comida e o conto se referia a ela como “a parturiente”. Senti repulsa imediata. Depois comecei a ver os fãs de Clarice Lispector: gente que só se refere a ela como “Clarice”, como se fossem os membros de um culto iniciático e que parecem se achar mais sensíveis. Sempre tem uma pessoa burra ou que gosta de fingir que não entende as coisas só para poder criar um monte de mistificações e encher sua alminha. Pode ser que Clarice Lispector não seja nada disso, e não mereça os leitores dela que eu conheci, mas essa é a imagem que eu tenho: a de uma produtora de mistificações para a classe média intelectual se sentir profunda.
Walt Whitman – acho que tudo começou quando eu li o verso “I sing the body electric” e achei um lixo. Depois eu percebi que 99% dos poemas eram sobre como ele mesmo é um cara sensacional e profundo, como ele faz coisas cheias de vida e aventura, sempre com aquele negócio de ser “o grande poeta americano” no fundo, de um jeito meio proposital, e a atmosfera de “Sociedade dos poetas mortos”: “Ai, tira esta convenção daqui que ela está me oprimindo!” Como Clarice Lispector, Whitman não tem leitores, mas adeptos. É verdade que há outros escritores que tem mais adeptos que leitores, como Salinger, mas eu gosto de Salinger. Mas esse espírito de “vamos ser modernos e contemporâneos” é extremamente datado e resiste ainda nas pessoas que lamentam não ter nascido algumas décadas atrás. Para mim, é um espírito que precisa ser exorcizado com Baygon.
Umberto Eco – mais um trauma da PUC. Li um ou dois textos e não tenho vontade de ler mais nada. Para mim o nome “Umberto Eco” significa “tenho uma erudição monumental e vou usá-la para oprimir as pessoas”. Ao mesmo tempo, já enjoei, ou já passei da idade, de gostar de “leituras simbólicas da realidade”. Ou vamos fazer poesia e ler poesia ou vamos falar de coisas tangíveis. Agora, ficar especulando sobre os possíveis significados de capas de livros, de seios de silicone e relacionar tudo isso com alguma coisa do século XIII – ok, muito legal, mas a vida é curta e sou obrigado a perguntar qual é o propósito da investigação. Mas, no caso de Umberto Eco, parece que o propósito é só continuar falando sem parar.