Da necessidade de apetência imediata das obras de arte

Boas obras de arte sempre têm algo que chama e fixa a sua atenção imediatamente. Ou quase imediatamente. Elas não podem ser chatas. Chatice é isso: é você ter que prestar atenção em algo que não quer, é o conflito entre atenção e apetência. Admito sem problemas que da primeira vez que eu li muitos dos meus poemas favoritos não entendi rigorosamente nada do que era dito, mas os li até o fim com interesse e voltei a eles espontaneamente, até que a minha apreciação fosse aumentando. Eles eram atraentes; não havia conflito com a atenção. A “profundidade” veio depois; porém, posso lê-los e repeti-los todos só por diversão.

Não me importo que uma obra de arte tenha uma “mensagem”. A felicidade não se compra (It’s a Wonderful Life) é um ótimo filme que tem uma mensagem. O que eu não gosto, realmente não gosto, é quando a apreciação de uma obra de arte qualquer pressupõe que você, antes de ter contato com a obra, concorde com alguma ideologia ou alguma premissa realmente distante do senso comum. Você tem que acreditar na “fragmentação do homem contemporâneo”, na “degradação da sociedade de consumo” ou em sei lá o quê, para poder apreciá-la, como se a ideologia fosse a tese e a obra o exemplo que a ilustra. Se é um filme sobre a “fragmentação do homem contemporâneo”, primeiro tem que me entreter por duas horas. Depois, quando eu pensar a respeito, capto a mensagem.

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