Agora, Bakunin e Herzen segundo Tom Stoppard

Alexander Herzen, revolucionário russo não-marxista (Herzen e Marx se odiavam), tinha um filho surdo, Kolya, que mrreu afogado junto com a mãe de Herzen num naufrágio. Três meses depois, a esposa de Herzen, mãe de Kolya, literalmente morreu de desgosto. Michael Bakunin, outro personagem real, também um revolucionário russo, encontra-se com Herzen. O trecho é de Shipwreck (pp 100-101), a segunda peça da trilogia The Coast of Utopia.

Leia também a primeira das minhas traduções de trechos da peça.

BAKUNIN: O pequeno Kolya… Uma vida tão breve! Que Moloch é esse…?

HERZEN: Não, não, de jeito nenhum! A vida dele foi o que foi. Como as crianças crescem, achamos que a criança existe para crescer. Mas a criança existe para ser criança. A natureza não despreza aquilo que só vive por um dia. Ela se derrama inteira em cada momento. Não damos menos valor ao lírio porque ele nem é de pedra nem é feito para durar. A riqueza da vida está no durante, depois é tarde demais. Onde está a canção depois que foi cantada? E a dança, depois que foi dançada? Somos só nós, humanos, que ainda por cima queremos ser donos do futuro. Nós nos convencemos de que o universo está minimamente ocupado com o desenrolar do nosso destino. Percebemos o caos aleatório da história todos os dias, toda hora, mas alguma coisa parece errada. Onde está a unidade, o sentido, da mais alta criação da natureza? Claro, essas milhões de pequeninas correntes de acidentes e de atos propositais são corrigidas naquele imenso rio subterrâneo que, sem a menor dúvida, está nos levando ao lugar onde somos aguardados! Mas esse lugar não existe, por isso é que se chama utopia. A morte de uma criança não tem mais sentido do que a morte de exércitos, de nações. Será que a criança foi feliz enquanto viveu? Esta é uma pergunta razoável, a única pergunta. Se não conseguimos produzir a nossa própria felicidade, a idéia de que vamos produzir a felicidade dos que vêm depois de nós é de uma arrogância invulgar.

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