E se o tédio matasse?

Tendo aulas na UFRJ, ou fazendo tradução simultânea de algum evento, sempre fico imaginando a mesma idéia para um filme: e se a expressão “morrer de tédio” tivesse sentido literal? O filme começaria com imagens de um aluno despencando de sua cadeira, subitamente fulminado pelo tédio, ou agonizando lentamente até ser salvo por algum colega, que o sacudiria e levaria para do lado de fora.

Para dar realismo à história, os burocratas também agiriam como se tudo o que existe fosse sua responsabilidade, gastando milhões e milhões na busca de uma vacina para o tédio e distribuindo cartilhas para que os professores não fossem tediosos. Nunca lhes ocorreria que obrigar alguém a aprender algo que não quer possa causar tédio. O fato de eles mesmos morrerem de tédio em suas reuniões seria um grande tabu.

Funcionários do setor privado receberiam adicionais de insalubridade e fariam seguro contra congressos, workshops e reuniões. O filme mostraria os memoriais para aqueles que morreram de tédio pelo suposto pogréssio da humanidade. E haveria campeonatos ilegais de resistência ao tédio, com apostas: R$100 que pelo menos dois funcionários morrem depois de 15 minutos da apresentação do novo sistema, R$50 que metade dos alunos de Teoria Literária III morrem antes da primeira prova.

O filme não teria exatamente uma conclusão, mas teria uma lição de moral: se o tédio realmente matasse, o mundo seria muito diferente.

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