A liberdade vale muito mais do que a eficiência

A liberdade é um valor infinitamente maior do que a eficiência. Eu não defendo o mercado porque ele é a “alocação ótima dos recursos”, mas porque ele é bom, porque ele é a soma das escolhas livres dos indivíduos. E enquanto os liberais ficarem enchendo o saco com essa conversa de eficiência vão continuar parecendo tecnocratas engomadinhos e repulsivos, porque a vida moral, à qual diz respeito a liberdade, é claramente mais importante do que a vida material, à qual diz respeito a eficiência. Toda pessoa que insiste muito em eficiência parece ser excessivamente voltada para a vida material e por isso profundamente mesquinha – a contrapartida capitalista do burocrata que está preocupado em aumentar o próprio salário.

W.H. Auden disse em algum lugar que os EUA eram “um lugar onde as pessoas acham mais importante ter a liberdade de fazer algo ruim do que ser coagidas a fazer algo bom”. Dito assim, parece uma condenação razoável do antigo – e perdido? – espírito libertário americano, mas se Auden mesmo tivesse sido um inglês menos esquerdista lembraria que a coação é sempre exercida por um burocrata, que este burocrata é um ser humano tão falho e estragado quanto você, e que assim como não é boa idéia que você mesmo tenha poder de coação sobre os demais seres humanos, não é boa idéia que o tenha o burocrata.

Você pode dizer que uma escolha livre pressupõe informação perfeita; eu digo que isto é balela, que se, como diz Ortega, yo soy yo y mi circunstancia, se eu sou um ser humano de carne e osso é inteiramente normal que eu seja limitado materialmente pelas circunstâncias, que vão da época em que nasci ao meu próprio desinteresse por alguma coisa. Você pode dizer que as empresas coagem os consumidores com sua propaganda, e eu digo que essa tal coação não passa de um exagero idiota se comparada à coação literal que você sofre para pagar impostos e sustentar gente idiota e totalitária como o Eduardo Azeredo.

Ter a liberdade individual como valor supremo, além de ser uma elementaríssima questão de prudência em nível social, é no plano individual uma simples questão de humildade: creia no que quiser, apodere-se das verdades que Deus ou o universo oferecem, mas não deduza daí que a sua experiência cognitiva particular deve ser imposta como padrão ao conjunto das pessoas. Ache feio, se quiser, que as pessoas escolham o mais fácil, o mais reles, o pior: que elas ouçam Britney Spears e não Schubert, que leiam Paulo Coelho e não Camilo Castelo Branco, mas lembre-se de que o amor à liberdade é muito menos abstrato do que parece: a liberdade é como uma mulher, ela é temperamental, ela pode ter defeitos, pode fazer coisas de que você não gosta, mas se você a amar verdadeiramente ela será fiel e dará muitas recompensas – todas na esfera particular, é claro.

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