Harold Bloom disse que ele é “o maior poeta inglês vivo”, mas Geoffrey Hill aparentemente não recebeu mais que três menções em papel no Brasil – epígrafes nos últimos livros de Bruno Tolentino e uma figuração numa lista de poetas contemporâneos da língua inglesa em uma edição da revista Poesia Sempre.
Não é de admirar: com 74 anos completos em 18 de junho, o poeta, ensaísta e professor de literatura e religião (aposentado em 31 de agosto) da Boston University nunca foi unanimidade. Seus últimos livros, Without Title (2005) e Scenes from Comus (2006), foram considerados obscuros mesmo por alguns de seus maiores fãs entre os críticos ingleses e americanos. Hill, no entanto, afirmou em sua entrevista à Paris Review que a poesia deve às vezes ser difícil, como resistência às simplificações que empobrecem a linguagem.
Dadas suas inclinações religiosas, também não é difícil imaginá-lo preocupado com a prestação de contas que fará de cada palavra (Mateus 12, 36). Por isso a “escassez” é uma de suas marcas formais mais distintivas. Se a teoria da informação de Shannon e Weaver diz que a redundância contribui para a inteligibilidade, Hill tanto deseja obter o máximo de significado por palavra, poundianamente falando, que sacrifica sem escrúpulos confirmações e reafirmações. A forma nasce de uma atitude, ou, para usar suas próprias palavras sobre os autores discutidos em seu último livro de ensaios, Style and Faith, “o estilo é a fé”.
As preocupações religiosas não se traduzem na lenga-lenga que se poderia esperar sobre alma, pecado, Deus etc. Hill está mais interessado no fato de que somos feitos de carne e no sofrimento físico. Em seu segundo e talvez mais memorável livro, King Log, o poema inicial, “Ovídio no Terceiro Reich” fala das “antigas valas de sangue” e o último, “O cancioneiro de Sebastian Arrurruz” já traz no título o trocadilho com as flechas (arrows), que tanto mataram São Sebastião como são as armas tradicionais de Eros: o personagem-narrador descreve prazeres e desejos relacionados à mulher que o abandonou, numa espécie de anti-Vita Nuova. Da esfera política à pessoal, vai-se formando uma voz que busca não a justiça cósmica e coletiva, mas a justiça como realização individual.