Hoje Bruno Tolentino completa 66 anos. Digo sem pudor: creio que é o maior poeta vivo da língua portuguesa.
Hoje há em português muita coisa interessante de se ler, muita coisa bem feita, esmerada, é verdade. E há ainda aqueles livros cujas resenhas falam da “fragmentação do homem contemporâneo”, de “margens” e “rupturas” e que o autor “propõe uma visão de mundo em que…”, livros que podem valer uma tese de mestrado mas não proporcionam prazer a ninguém. Mas se você quiser ler poemas contemporâneos que têm música, poemas que grudam no seu ouvido e que você fica recitando para si próprio, pode ir à obra de Bruno Tolentino.
Novidade: clique aí embaixo para me ouvir recitando o poema. Dura mais ou menos um minuto.
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In passim
Bruno Tolentino. O mundo como idéia.
São Paulo: Globo, 2002. p. 250
Tudo vai-se acabando, tudo passa
do que é ao que era. É tudo mais
ou menos uns vestígios de fumaça
no espaço do que deixas para trás.
E tudo o que deixaste ou deixarás
de manso ou de repente, sem que faça
diferença nenhuma no fugaz,
é assim como a garoa na vidraça:
intimações de lágrima delida.
Não valeu chorar nada. Nem te atrevas
a lamentar-te à porta da saída,
pois pouco importa a vida como a levas,
que ela te leva a ti, de despedida
em despedida, a uma lição de trevas.