Há uma variação ideológica interessante nos filmes de Jet Li. Quem vê os antigos filmes da Golden Harvest, do tempo em que Hong Kong era um protetorado britânico, percebe a clara mensagem anticomunista mascarada em anti-imperialismo. Sempre os guardas do império são maus; sempre a autoridade central é má. Em Tai Chi, por exemplo, o ex-monge amigo de Jet Li junta-se à guarda imperial e isto é, para o protagonista, algo semelhante a juntar-se a Darth Vader. Já em Hero, filme da China comunista fuziladora de grávidas, a glorificação da unificação imperial é total e completa, apresentada como necessária e como a grande verdade a que os verdadeiros sábios devem se curvar. Ainda que bonita, bem atuada, bem dirigida etc, a cena em que o personagem Broken Sword (não tenho a menor idéia de seu nome chinês e não lembro do nome em português, mas o ator é o mesmo de 2046, acreditam?) escreve na areia a expressão “nossa terra” só não dá vontade de vomitar porque, bem, ele escreveu na areia, logo veio um vento e apagou aquilo. Pode ser um belo argumento para uma causa pérfida, mas não é o caso de achar que a beleza de um filme redime o totalitarismo. Francamente, eu preferiria ver um filme em que Jet Li ajuda membros da Falun Gong a libertar prisioneiros dos comunistas.
E, voltando ao assunto original do post: é uma lástima que Jet Li decida parar de lutar, porque é bom ver filmes em que disciplinados guerreiros não têm medo de lutar por boas causas. A idéia de que não precisamos de violência é totalmente errada. Precisamos dela para combater o mal. Disto não se deduz que eu apóie a criação de uma autoridade central contra o mal, mas apenas que o mundo idealizado dos filmes pode nos dar a inspiração para agir na famosa “vida real”. E os guerreiros de Jet Li vão fazer falta.