Os números do Datafolha sobre a reação de quem assistiu ao debate, que mencionei ontem, ainda merecem uma reflexão de outra ordem.
Não assisti ao debate, mas li algumas transcrições e vi alguns trechos. Lula não agüenta ser contestado. Ele fica irritado, nervoso. A leitura de sua entrevista no Globo de hoje mostra a mesma coisa. Fiquei fascinado com essa entrevista (leiam lá no site do Globo; o site é horroroso de ser acessado e não dá nem pra linkar aqui, mas vale o esforço). Lula se irrita com as perguntas, começa a mudar de assunto, ataca o entrevistador.
Indagado sobre a oposição do PT ao Fundef, quando o partido fez rigorosamente o mesmo que Lula havia acabado de acusar o PSDB de fazer, ele responde:
“O Fundef, meu filho… O Fundef foi uma coisa… Vamos esquecer o Fundef, porque ele já cumpriu sua tarefa.”
Indagado sobre qual o modelo de Estado que ele defende, passa a esbravejar:
“Não vou privatizar nada! Você quer saber isso?”
Indagado sobre os baixos índices de crescimento do Brasil, questiona a pergunta (e afronta os fatos):
“Aumente um pouquinho o nosso crescimento, acima da mediocridade. Seja parcimonioso.”
Indagado sobre por que não perguntou a seus amigos e “companheiros” quem financiou a compra do pseudo-dossiê contra José Serra, sai-se com a seguinte pérola:
“Primeiro, porque não é meu papel perguntar; o papel de perguntar é da Polícia Federal.”
Indagado quanto a ser ou não crível que, com a relação que tem com Bargas e Berzoini, eles tenha agido à sua revelia, responde com generalidades:
“É crível a relação que eu tinha com o José Dirceu, é crível a relação que eu tinha com o Palocci, é crível a relação que eu tenho com todo mundo. Quando as pessoas são chamadas para trabalhar no setor público, quando as pessoas são chamadas…” [ele não concluiu a resposta.]
Indagado sobre o denuncismo do PT quando estava na oposição, diz o seguinte:
“Não faça comparações. Cada partido age como quiser agir.”
O resto da entrevista tem as asneiras de costume, mas estou interessado é na reação emocional do Presidente. Sua irritação, que foi a mesma que mostrou no debate, não decorre de sua condição de manifesta inferioridade intelectual diante de seu oponente na campanha, ou diante dos jornalistas que o entrevistaram.
É que Lula, no poder, virou Fidel Castro (por enquanto, só psicologicamente, não de fato). Ele adora o som da própria voz. Pode discursar por horas, dizendo aquelas bobagens megalomaníacas a que se acostumou, e de fato não fez outra coisa nos últimos 4 anos. Mas não admite contestação. Não admite que se lhe façam perguntas.
Não privo da intimidade do Presidente (ainda bem!!), mas posso imaginar o ambiente de puxa-saquismo em que ele vive, o esforço de todos que o cercam para não desagradá-lo e para não contrariá-lo. Esse ambiente, característico dos ditadores e tiranos, cria as condições propícias para o Presidente fazer discursos comparando-se a Jesus Cristo, ou dizer-se “sem pecados”.
E, ainda assim, para a opinião pública, autoritário é quem o contesta.