Quem acoberta mais crimes?

“A provável reeleição de Lula é sinal de que, para boa parte dos brasileiros, a ética e a honestidade definitivamente deixaram de ser valores em si mesmas, para tornarem-se qualidades subjetivas. Não é mais o ato criminoso que conta, mas sim quem o praticou, acobertou ou fingiu ignorar. Aos olhos de quem tem um mínimo de perspectiva histórica, este é um estado de espírito alarmante – para dizer pouco. Quando uma sociedade relativiza o crime, a justiça deixa de ser igual para todos.”

A análise de Cora Rónai no Globo de hoje é perfeita, mas tem o problema de chegar algumas décadas atrasada. Os intelectuais e jornalistas brasileiros já vêm aplicando essa relativização do crime há muito, muito tempo. Um exemplo muito recente é o tratamento dado ao Papa Bento XVI em sua eleição, que foi chamado de nazista por ter sido recrutado à força e servido nas baterias anti-aéreas durante um curto período da Segunda Guerra, sendo que passou a maior parte do tempo como prisioneiro dos aliados. Já ninguém na grande imprensa se levanta para cobrar de Frei Betto seu apoio a Fidel Castro: sobre a Cuba dos milhares de prisioneiros políticos, dos fuzilamentos, da criminalização do homossexualismo, do racionamento de comida, das construções em ruínas, dos refugiados que aceitam encarar um mar cheio de tubarões para chegar a Miami, o dominicano já nos deu o livro “O reino de Deus na terra”. E Frei Betto continua a ser plenamente respeitável – esqueci de mencionar, aliás, os retiros que ele costuma pregar a guerrilheiros. Jandira Feghali, também, pode pertencer a um partido de linha oficialmente stalinista sem que pese qualquer suspeita sobre ela. Aliás, Oscar Niemeyer até hoje diz que os crimes de Stálin são “mentiras da direita”. Chico Buarque já gritava “chame o ladrão”, sem que ninguém pensasse mal dele, e está sempre indo a Havana fazer papel de bobo da corte castrista. Todos rapidamente condenam a guerra de Bush, mas ninguém condena a perseguição mortífera que o governo armado realizou contra o próprio povo indefeso na URSS, na China, no Camboja, no Vietnã e realiza em Cuba.

Há décadas os intelectuais e jornalistas acobertam ou fingem ignorar os crimes praticados por seus heroizinhos assassinos. Quando condenam o nazismo, não o fazem em nome da bondade, da justiça ou de qualquer outro valor, mas o fazem seguindo uma diretiva de propaganda dada por Stálin após a invasão da Polônia. Condenar os crimes praticados pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães e não condenaros demais crimes que são praticados aqui perto de nós, apenas no mar do Caribe, não é fome nem sede de justiça: é apenas pérfida e sórdida luta ideológica. Perspectiva histórica, minha cara Cora, é isto: e

veja que eu estou apenas recuando umas poucas décadas.

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