São Tomás de Aquino sobre a inteligência

Suma de Teologia II-II, q.8, 1 c

A palavra inteligência insinua certo conhecimento íntimo: “inteligir”, com efeito, é o mesmo que intus legere, ler interiormente. E isto é evidente para os que consideram a diferença entre a inteligência e os sentidos; de fato, o conhecimento sensível ocupa-se das qualidades sensíveis exteriores, conhecimento intelectual porém penetra até a essência das coisas. O objeto da inteligência é “aquilo que a coisa é”, como diz Aristóteles. Ora há muitos gêneros de coisas que permanecem ocultas interiormente, para as quais é preciso que o conhecimento humano por assim dizer penetre interiormente. Porque, sob os acidentes oculta-se a natureza substancial das coisas, sob as palavras oculta-se o que está significado pelas palavras, sob as semelhanças e as figuras oculta-se a verdade figurada. Pois, as coisas inteligíveis de certo modo são interiores quando comparadas às sensíveis, que se percebem exteriormente, assim como nas causas ocultam-se os efeitos e vice-versa. Mas, como o conhecimento humano principia pelos sentidos, pelo exterior das coisas, é manifesto que quanto mais forte é a luz da inteligência, tanto mais pode perscrutar o íntimo das coisas. Ora, o lume natural de nossa inteligência tem capacidade finita; por conseguinte, só pode chegar até determinado ponto. Portanto, para perscrutar além precisamos do lume sobrenatural, até o conhecimento de certas coisas que não somos capazes de conhecer pelo lume natural. Esta luz sobrenatural dada chama-se dom do entendimento.

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