Responsabilidade negra

Um belo artigo sobre a questão racial nos EUA saiu no OpinionJournal de hoje. Shelby Steele diz:

O famoso discurso do presidente Lyndon Johnson na Universidade Howard, que lançou em 1965 o projeto da Grande Sociedade, descreveu este equilíbrio de poder apontando diretamente a responsabilidade dos brancos sem fazer uma só referência à responsabilidade dos negros. Nos quarenta anos que se passaram desde este discurso nenhum presidente americano ousou corrigir a omissão.

O problema aqui é óbvio: a vergonha da inferioridade nos negros (resultado da opressão, não da genética) não pode ser superada com menos do que uma presunção heróica de responsabilidade por parte dos mesmos negros americanos. De fato, a verdadeira igualdade – uma paridade real de riqueza e capacidades entre as raças – é hoje em grande parte uma responsabilidade negra. Isto pode não ser justo, mas a justiça histórica – da espécie que resolve as injustiças da história – é um idealismo que hoje atinge a América negra ao fazer com que a responsabilidade dos negros pareça uma injustiça.

No Brasil, obviamente a situação é diferente, mas parte desta análise me parece verdadeira mesmo assim. Os movimentos negros sempre parecem abusar do racismo branco, existente ou não, e nunca olham para os grandes homens negros que puseram de lado a questão da raça. Machado de Assis, o maior romancista do Brasil e um dos maiores da língua, era filho de um negro com uma lavadeira portuguesa, nasceu no Morro do Livramento, não freqüentou curso superior e era epilético. Aprendeu francês com um casal de padeiros. Cruz e Sousa, 100% negro, é um de meus poetas favoritos e indisputavelmente um dos maiores da língua. Nenhum dos dois é apresentando como modelo, e, raios, ambos são modelos (não apenas literários) para pessoas de qualquer raça.

Fosse eu negro, não aceitaria nenhuma cota que me paternalizasse. Faria questão de seguir os passos de Machado de Assis e outros grandes homens, em vez de tomar partido na coisa mais repulsiva já inventada pelos brancos universitários, que é a cultura do ressentimento. Sei que a citação é um pouco fora do tom do site, mas, enfim, get up, stand up.

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