Estou onde sempre estive – e sem público disposto a ouvir.
É que o brasileiro médio, letrado ou semiletrado, está por demais acostumado a catalogar tudo o que lê em termos de partidarismo político, e se tornou incapaz de entender sutilezas ou de buscar conciliar posições aparentemente contraditórias.
Assim, de um lado, a esquerda, ainda bem, detesta meus escritos, por razões óbvias.
Por outro lado, os conservadores também os detestam, porque eu falo mal do Bush e dos Estados Unidos. Os liberais e libertários detestam porque sou católico. Os católicos progressistas detestam porque meu catolicismo é conservador, medieval mesmo. Os católicos conservadores detestam, porque sou politicamente liberal.
Além disso, os leitores que lêem por mero prazer e procuram um estilo elegante ou particularmente brilhante também não vão encontrar nada, porque o tom dos meus escritos é quase sempre coloquial e direto.
Enfim, não sobrou quase ninguém.
Mas também não ficaria bem para um escrevinhador, ao mesmo tempo em que denuncia a crise da consciência e a obsessão nacional em raciocinar por rótulos sem significado, procurar arrebanhar multidões. Óbvio que não.
Na verdade, a tarefa do intelectual honesto, a única que ainda vale a pena, é relatar as coisas tais como as vê, sem esperar qualquer tipo de aplauso. Trata-se de absoluta imposição da consciência, e deixar de cumpri-la equivale a abandonar o sentido da vida, substituindo-o por ilusões coletivas passageiras.
Prossigamos, pois.