Quando Lula foi eleito, vários – vários – amigos me falavam que “vivíamos um tempo de grande esperança”. Recordo particularmente que, à época, falei com uma amiga de colégio com quem não me encontrava há zilênios, e ela contou que tinha passado os dias anteriores à eleição… fazendo campanha. Naturalmente eu falei que não compartilhava seus sentimentos, mas poupei-a de um sermão a respeito dos vícios do PT.
Não poupei outras pessoas com quem tinha mais intimidade. Você pode pensar o que quiser, mas uma coisa é fato: se você é amigo de Fidel Castro, você não acredita sinceramente que roubar é um pecado muito grave. Aliás, você não tem qualquer espécie de freio moral. Se você acredita no socialismo e acha que o seu partido é o porta-voz e “consumador” legítimo de supostas tendências históricas inevitáveis, você se colocou acima da História, acima dos homens, e já não aceita mais compartilhar com eles os mesmos critérios morais. A sua consciência já se tornou tão nublada – sobretudo por causa premissa absurda de que você é uma espécie de messias do proletariado, aquela premissa que você não examina há quanto tempo? Décadas? – que você realmente não distingue mais entre roubar para si e contribuir para a “causa”. Tudo isto, que é na verdade bastante pouco, era perfeitamente evidente desde antes de 2002.
O problema maior do Brasil não é o mensalão. Muito menos a corrupção estatal – onde há Estado, há corrupção, e quanto maior o Estado, maiores e mais numerosas as oportunidades. O problema real é 62% dos eleitores terem escolhido o PT. O fato de 62% dos eleitores não perceberem que os mensalões e o financiamento ilegal de campanhas são apenas exemplos típicos da conduta de quem – para usar as palavras do próprio presidente – “não tem pecados”, recebe Fidel Castro na posse e se associa às FARC.
Lula diz que se sente traído; 62% dos brasileiros também. Os 62% provavelmente não acreditam que o presidente não soubesse de nada, e é razoável que pensem isso. O que não é razoável é que também se sintam traídos; o que não é razoável, o que inviabiliza uma nação, é que haja tantas dezenas de milhões de Lulas aqui plantados, culpados de cegueira voluntária, messianismo imbecil, ou simplesmente de conivência com a maldade.
Diante de uma massa tão avassaladora de pessoas incapazes de ligar premissa e conseqüência, causa e efeito, eu vos digo: virão ainda coisas infinitamente piores. O inferno brasileiro está apenas começando.