Você pode não gostar da Oriana Fallaci. Pensando bem, nem eu gosto muito. Mas uma coisa é uma pessoa ser antipática, e outra coisa é um juiz ativista de meia-tigela acatar causas de militantes enraivecidos.
Há coisas demais para ser comentadas no caso de Oriana. A primeira é que seu julgamento é emblemático da morte do Ocidente, o mesmo Ocidente que teve a sua identidade definida pela oposição ao Islam:
O afresco de 1415 de Giovanni da Modena na Basílica de São Petrônio em Bolonha mostra o “profeta” (Sou católico, ok? Não acredito que Maomé seja profeta, assim como os muçulmanos não crêem que Cristo é o filho de Deus – para mim, pura blasfêmia) do Islam no inferno, atormentado por demônios.
O poeta espanhol Jorge Manrique cantava, no mesmo século:
EI vivir que es perdurable
no se gana con estados
mundanales,
ni con vida deleitable
en que moran los pecados
infernales.
Mas los buenos religiosos
gánanlo con oraciones
y con lloros;
los caballeros famosos,
con trabajos y aflicciones
contra moros.
Isto para não falarmos de quantas coisas nossos antepassados na terrinha penaram contra os invasores, nem esquecermos de quantas vezes Camões se refere a estes inimigos.
O que virá a seguir? Juízes anti-Ocidentais vão querer produzir versões inócuas d’Os Lusíadas? Vão tapar as paredes da Basílica? Manrique será proibido?
***
Já vamos para a segunda década em que poucas pessoas protestam contra o vilipêndio do Ocidente, certamente porque os próprios ocidentais não crêem mais nele. Se eu acreditasse que meu tataravô foi um macaco, que minhas idéias são apenas a superestrutura ideológica da minha condição econômica, que meu impulso religioso é só a sublimação de um desejo sexual, que a linguagem que eu uso é que fala através de mim, talvez de fato eu não quisesse conservar nada – nem mesmo o ambiente de liberdade que permite que qualquer besteira seja proclamada do alto dos telhados. Diante da fraqueza e da falta de disposição da Europa senil, não admira que o Islam pareça atraente a tantos. Não a mim, devo dizer.
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