O donzelão dos argumentos

O blogueiro Rafael Galvão, dizendo que “só quer o bem” do comentador Bruno, faz uma série de sugestões a respeito de sua vida sexual e o submete à humilhação pública. Isto sem que Bruno lhe tivesse feito qualquer ataque pessoal. Se fôssemos seguir a estratégia rafaélica do argumento ad hominem, e ainda considerássemos aquele rostinho de Alain Delon que enfeita o canto direito do blog, a que conclusões não chegaríamos! Afinal, é a maravilha: um diz que é contra a camisinha, e pode até demonstrar uma certa ingenuidade, e o outro, gratuitamente, começa a falar de suas fantasias e a descrever seus sonhos erótico-profanadores. Mas, como diz minha namorada, todas as pessoas que falam mal da religião sempre se acham muito inteligentes; eu devo acrescentar que elas, a exemplo de Rafael Galvão, também se acham tão superiores que nunca lhes ocorre que estejam fazendo um papel ridículo.

Abandonando o círculo dos pensamentos rafaelescos, podemos propor a questão a sério: “Por que, afinal, a Igreja Católica se opõe ao uso da camisinha e outros anticoncepcionais?” Ora, porque são um estímulo à promiscuidade. Ainda que eu me incline a admitir que a humanidade nunca tenha precisado de muitos estímulos para extravasar suas necessidades sexuais, não posso também deixar de observar que uma facilidade material é sempre, bem, um estímulo. Se eu quero viajar e tenho o dinheiro para ir da maneira mais confortável, isto é um estímulo. Se eu quero ir ao teatro e ganho ingressos de graça, isto é um estímulo. Se eu quero fazer sexo sem correr o risco de ter que arcar com qualquer uma das possíveis conseqüências objetivas deste ato, e tenho uma camisinha, isto é sim um estímulo. E é preciso distinguir entre a motivação subjetiva para o ato sexual, que é obviamente o prazer, e sua finalidade objetiva, que é a perpetuação da espécie. Quanto mais fácil for descolar a motivação subjetiva desta finalidade objetiva, mais promíscuas as pessoas serão, porque lhes faltará o famoso reality check. Quanto mais coisas inconseqüentes – e, sejamos honestos, um novo ser humano é uma conseqüência muito mais sólida do que qualquer laço emocional – as pessoas puderem fazer, mais infantis se tornarão. Cada vez mais vão gritar que querem ver suas meras expressões de desejos respeitadas como solenes argumentos, crentes que com elas põem abaixo a Escolástica que ignoram e a Filosofia Clássica de que mal ouviram falar.

Aliás, a idéia de que a promiscuidade é ruim não é nem cristã em sua origem, e nem necessariamente religiosa. Aristóteles já á propõe abertamente, admitindo que o desejo sexual é uma paixão – a qual, como toda paixão, deve ser ordenada pela razão. Apenas a mentalidade mimada dos Rafaéis pode conceber que a idéia de não satisfazer cada um dos desejos que se tem é algo horripilante, e que fazer com que a razão seja obscurecida pelos apetites é algo mais inteligente do que tentar dar liberdade para a própria razão.

E a propósito, Rafael: é magistra, feminino; como no título da encíclica Mater et Magistra, que você cita provavelmente sem saber.

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