O que eu escrevi sobre o Dr. Julio Fleichman estava ruim demais; também, eu fiquei deveras perturbado com a notícia de seu falecimento.
Eu só queria dizer que o Dr. Julio foi um grande homem. Sua grandeza, porém, não está na maneira como reagiu a certas questões abstratas que surgiram em sua mente, nem em como reagiu num campo de batalha. Isso não quer dizer que eu vá falar da grandeza da vida ordinária, porque a vida do Dr. Julio foi um tanto quanto extraordinária. Sem buscar a glória, a publicidade, a fama, agiu heroicamente sempre que as circunstâncias exigiram. Converteu-se ao Cristianismo por um dever de consciência e suportou as duras conseqüências que adviram; apoiou o quanto pôde a causa da missa tridentina, e isto como cidadão privado que oferecia seus próprios recursos. Mas não era um homem rico, a quem a defesa da tradição católica não custasse nada.
Esta defesa, também, não é caracterizada por um ou poucos gestos heróicos e ocasionais, mas pela constância; foi mais um trabalho de manutenção, realizado por anos, contra todos os desgastes. É fácil imaginar que, diante dos legionários romanos, da KGB, das SS, de agentes cubanos, nos levantaríamos para defender o Cristianismo e aceitaríamos o martírio, desde que ele durasse alguns minutos ou, numa hipótese generosa, algumas horas. Mas quantos de nós somos capazes de uma vida longa, exteriormente tranqüila e de acordo com a religião católica, aqui não entendida na sua versão mais moderna e liberal (“o importante é ter Deus no coração”), mas na sua versão, digamos, de “estrita observância”? Não quero, é claro, desmerecer os mártires. Mas será que seríamos mesmo capazes do martírio se não formos primeiro capazes de agir como o Dr. Julio Fleichman?
Que sua alma descanse em paz.
Leia a entrevista que Dr. Júlio deu a mim e ao Alvaro, na versão condensada ou na completa.