Sonetário (e considerações sobre poesia)

Se toda a internet brasileira acabasse, eu gostaria de salvar um único site: o Sonetário Brasileiro, elaborado por Élson Fróes e Glauco Mattoso.

Coro de vergonha por só ter descoberto este site há dias, quando ele existe há anos.

A seleção de sonetos é vasta e os critérios são bastante razoáveis. A teoria do soneto proposta é ótima, bastante ponderada, sem arroubos bizarros vanguardistas, nem espírito castrador classicista (o qual, confesso, me parece tão real quanto o Bicho-Papão). Subscrevo particularmente a regra III do “decálogo”, a respeito de acentuar preferencialmente o verso decassílabo como pentâmetro iâmbico. É um metro que sempre funciona, de uma naturalidade impressionante.

Isto, aliás, é o que Glauco Mattoso percebeu: que a linguagem metrificada não está “presa”, mas sim “musicada”. Por isso, em 99,99% dos casos, os poemas metrificados são mais belos do que os poemas em (infeliz expressão) “verso livre”. Faço exceção para Eliot, Geoffrey Hill (que nem sempre é “livre”) e Pessoa, mas concordo com João Cabral – divertidamente alcunhado de “garoto-enxaqueca” por Ruy Goiaba – quanto ao seu legado nefasto, sobretudo no Brasil. Como disse Auden, “o verso livre é uma exceção, e não a regra”; ou, melhor ainda, nas palavras de Eliot, “no verse is free for a man who wants to do his job right”.

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