As magricelas nunca me comoveram muito. Até o dia em que eu vi uma magricela lindíssima bem na minha frente. Alguma parte de mim tem um amor platônico por ela, e em mais um desses dias em que a minha presença na UFRJ era apenas física decidi escrever-lhe uma homenagem.
Meu primeiro verso aqui foi escrito sobre o primeiro verso de um famoso poema. Aguce os ouvidos, e se quiser arriscar um palpite escreva para pedro@oindividuo.com.
Quem não consegue captar essas referências de ouvido nunca será mais do que um leitor amador de poesia. Imagino que algo similar aconteça na prosa – terreno no qual sou totalmente amador.
Soneto à musa anoréxica
Conquanto teu olhar nunca me desse
sinal de me quereres, e conquanto
esta seja palavra que arrefece
meu animus amante – sim, “conquanto” –
escrevo meu poema como prece
a Santo Antônio e aos muitos outros santos
para os quais um jejum nunca fizeste,
mas eu fiz – quer dizer, talvez nem tanto.
Anoréxica musa, nos teus ossos
expostos pela ascese tão mundana –
também na tua carne, ou só às vezes,
conquanto pouca, seca e sem remorsos –
meus clichês amorosos e reveses
adormecem buscando a forma humana.