Ler W. H. Auden mudou minha vida. Não estou falando do meu gosto literário: mudou a minha vida. Pena que só fui ler em junho de 2003.
Hoje, 21 de fevereiro, Auden faz aniversário. Como celebração, tributo, homenagem etc. gostaria de oferecer uma tradução que fiz de um de seus poemas, The Fall of Rome. Acho que ela está very decent. Mostrei-a a algumas pessoas que realmente entendem de inglês e poesia para que opinassem: Paulo Henriques Britto, Bruno Tolentino e Leonardo Fróes. Ao primeiro devo uma ajuda com os dois primeiros versos da terceira estrofe. Ao segundo, uma reclamação a respeito da última – havendo disposição, melhoro. Ao terceiro, devo o empréstimo de uma edição de Selected Poems corrigida à mão pelo próprio Auden. Yes, I have Auden’s handwriting in my room right now.
Chama a atenção que nesta edição esteja escrito “Cerebrotonic Catos may”, e Auden não tenha corrigido. Em todas as outras edições do poema, há apenas um “Cato”. Para tirar a dúvida, fui até a leitura que Auden fez, disponível no site do New York Times: “Cato”, e não “Catos”.
(Leia a respeito de sua festa de aniversário de 50 anos)
A queda de Roma
W. H. Auden / trad. Pedro Sette Câmara
para Cyril Connolly
As ondas batem contra o cais;
a chuva sobre o descampado
açoita um trem abandonado;
nos montes há ladrões demais.
As vestes cada vez mais belas;
o Fisco busca sem pudores
abscônditos sonegadores
nos esgotos das cidadelas.
Faz-se dormir, com ritos mágicos,
no templo as sacras prostitutas;
e os literatos já recrutam
um amiguinho imaginário.
Catão, o cérebro perfeito,
louva os saberes do passado;
fuzileiros amotinados,
porém, exigem seus direitos.
Esfria o leito imperial
enquanto um reles funcionário
em seu rosado formulário
diz: MEU TRABALHO PAGA MAL.
Sem riqueza e sem piedade,
passarinhos de rubras pernas
aquecem seus ovos e observam
a gripe entrando nas cidades.
Num lugar distante, entrementes,
imensos bandos de veados
correm por milhas de dourado
musgo, silenciosamente.